Vou-lhes ensinar algo sobre a vida. Da forma mais cretina.
Intercale homens e mulheres em uma fila lateral astronômica com o olhar para o horizonte.
A fila é tão gigante, que com apenas o torcer de pouquíssimos graus de ângulo aberto entre um ser e outro, fará-se um circulo.
Pés retos, joelhos firmes, suor escorrendo da testa, mãos tremulas e todos os músculos retraídos.
Pode até parecer um treinamento militar, mas não é.
Isso é sobre amor.
Um observador constataria que temos um homem em meio a duas mulheres. Ou, se preferir, uma mulher em meio a dois homens, mas isso não altera em nada o que quero dizer.
Você, ao olhar para o horizonte ainda consegue a contemplação de sua visão periférica, e enxerga, verdade que com dificuldade, quem está a rodear-te.
Têm medo do que está acontecendo. Teme mais ainda o que pode acontecer.
Todos são iguais.
Haverá um momento em que toda a angustia, medo, e curiosidade levará a multidão a olhar para o lado, buscando apoio, compreensão e conforto.
Alguém que possa trazer alguma resposta sobre o porque daquela brincadeira sem graça, sem saberem que a brincadeira é séria.
E assim vem uma voz que rasga o céu claro e quente, dizendo: - Quando eu disser "Já", todos escolham um lado, e apenas um!
- Um, dois, três. Já!
- Um, dois, três. Já!
Então, como que em uma coreografia, a maioria olha para a direita.
Todo os sentidos em prontidão, que esperavam encontrar um olhar reconfortante dão de cara com as costas do seu escolhido.
Nenhum olhar se encontra. Nenhum reconforto surge.
Nada é explicado.
Seus olhos não vêem nada do que queriam ver.
Mas não esqueça que você também deu as costas para alguém, apesar de isso não parecer importar agora.
Os que encontraram olhares saem da ciranda, e o ciclo é refeito.
Dá-se um tempo para que os que sobraram formem novamente outro circulo astronômico, e, tudo recomeça.
- Um, dois, três. Já!
Vence a brincadeira quem aprender com o menor numero de tentativas.