Clarissa, a secretária.

sexta-feira, 15 de abril de 2011
De 2 dias é feita a minha ansiedade.

Até sexta tudo estava normal, despertador, café, trabalho, casa. Sempre nessa ordem: Vilão, prazer, obrigação, e satisfação.

Vilão porque me buscava de um mundo doce e me atirava de volta à realidade, em que embaixo de dois cobertores ao pleno rigor do inverno, eu ainda sonolento precisava iniciar uma contagem regressiva para a primeira batalha do dia: pular da cama, atravessar o quarto escuro apenas de bermudas e camiseta e em um único golpe desligar o ventilador.

Se eu me equivocasse em algum desses passos eu sentia que congelaria e ali mesmo seria feito de mim uma estátua daquelas, de gelo, como as de Nova York. Imagina a minha vergonha se o pessoal visse a camiseta que eu dormia. Ainda bem que eu nunca errei o botão do ventilador. Ainda bem.

O café creio que não seja tão necessário detalhar: Calor, ânimo, assunto. A revigorada pós choque de realidade e temperatura que todos conhecem.

Só que sexta-feira algo aconteceu e alterou os adjetivos do resto da rotina: Com um sobretudo e botas, ambos pretos, calça jeans de um azul envelhecido, com o pescoço envolto por um cachecol vermelho xadrez  que combinava com o rosa de suas bochechas adentrou no ambiente uma mulher de sorriso impecável, voz doce e educação real.

Aquele escritório de advocacia virou um zun-zun-zun. Todos preocupados em saber quem era aquela moça.

- É cliente?
- Será que é divórcio?
- Tomara que seja divórcio.

Todos os olhares eram dela, e foi uma surpresa geral quando ela entrou direto na sala do Pacheco sem perguntar nada à ninguém.
Foram 20 minutos de tensão naqueles 95m² de escritório quando abrem-se as portas marrons com acabamento negro e de lá vem Pacheco sorrindo com um ar orgulhoso:
- Pessoal, essa é Clarissa, minha nova secretária, segunda ela começa.

Silencio no recinto.

Enquanto os homens sorriam absorvendo a idéia de que a veriam todos os dias, as demais secretárias inclusive Lourdes, a minha, lançavam em Clarissa um olhar metralhante. Eu cheguei a ouvir o pensamento em coro delas:
- Ridícula.

Clarissa saiu e a boataria começou:
- Será que o Pacheco tem um caso com essazinha aí? Porque ele dispensou a Bianca, que trabalhava um tempo para ele a menos de duas semanas, só pode que foi pra ficar mais perto dessa aí, né Jeruza? Dizia a Lourdes.

Já o Vinícius gritava lá no cantinho do café:
-Grande Pachecão, a única coisa boa que ele fez em prol desse escritório nos últimos anos foi essa. Porque as causas, tem perdido todas. E ria.

Resumindo, esse foi o assunto de sexta.
Entende porque meu final de semana foi feito de ansiedade?
Amanhã a Clarissa começa. Tomara que eu não erre o botão do ventilador.

2 comentários:

  1. gislanesilva@bol.com.br disse...:

    parabens pelo texto de hoje no jornal. Legal que divulgou o teu blog, agora vou poder acompanhar

  1. Marisa disse...:

    Me diverti lendo a crônica. Gostei da forma como escreve. Continue tem talento para ir mais longe.

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