O Canalha

quinta-feira, 31 de março de 2011
- Seu canalha, porque você faz isso?

Frederico amava ouvir isso das mulheres, sentia-se poderoso quando essas palavras eram entoadas.

CA-NA-LHA.

Adorava o termo, gostaria de saber quem inventou. Será que foi um homem ou uma mulher?

Ele disse uma vez que se fosse o He-man, o seu " pelos poderes de greiscow " seria esse.
A partir dai eu comecei a desconfiar do cara.
Esse tipo de gente é boa com as palavras, sabem fazer joguetes e sempre te colocam pra rir.
Mas no dia que o Frederico soltou essa do He-man pra Marcela eu percebi: É falso.

Não só pelo fato de ser sem graça, mas por falar isso pra uma mulher.
Tudo bem, a Marcela era quase homem, tinha um bigodinho e até a virilha coçava, mas era mulher pô. Não se confia segredos dessa magnitude pra uma mulher, mesmo que ela tenha bigode.

Você mulher deve estar a pensar : - Que bobagem, nenhum homem precisa declarar-se canalha para sabermos que ele o é. Pois é. Mas porque que quando avisamos que o café está muito quente vocês insistem em queimar os lábios pra comprovar que ele realmente está?

Eu noto isso aqui na repartição. Todo dia o Almeida vem da cozinha as 4:30 com aquele bule e grita:
- Gente, dá um tempo pro café que eu esqueci da àgua no fogo e ficou quase fervida.

Elas não confiam no Almeida e sempre se queimam.

Eu acho que ele gosta de enganar elas porque ele sempre faz a mesma coisa, sempre diz a mesma coisa e sempre volta pra cozinha com o mesmo sorriso no rosto enquanto elas continuam se queimando.


O Almeida sim é um canalha de verdade.
Já o Frederico é só mais um desses que teve problemas com a mãe.



O branco, aquele desgraçado.

segunda-feira, 28 de março de 2011
Essa barra vertical é irritante, some, aparece, some, aparece. Tudo isso em menos de 1 segundo.

Só serve para me lembrar que o tempo está acabando e eu aqui, sem nem saber o que escrever.

Eu não sai de casa no fim de semana, não vi ninguém passar pela minha rua que tivesse graça ou que despertasse uma curiosidade suficiente pra chamar a minha atenção. Como eu vou escrever?

Só o que se via na rua eram os guarda-chuvas. De todos os tamanhos mas com a mesma cor. Preto.

O coitado do preto deve sofrer né. Ninguém consegue ver que ele não é o vazio?
Poxa, o cara consegue reunir todas as cores mas mesmo assim não convence ninguém de que ele é o tal de "good guy"?

Mas não, a fama vai toda para o branco, aquele desgraçado.
Não percebem que o cara não tem moral nenhuma? Ele sim que é o nada.

Aceita tudo, esse branco. Mentiras, promessas falsas. Números, letras, ameaças.

O cara é condescendeste. Mas acham que ele é sempre o legal.


É como a historia sobre os gordos.
Não somos comediantes. Não precisamos ficar fazendo vocês rirem a toda hora. Somos apenas gordos.

Dizem até que existem uns sérios.
Eu não conheço nenhum, mas se dizem...









O cara novo na cidade

segunda-feira, 21 de março de 2011
Ouço o som vindo da sala, um cara com uma voz engraçada está tentando explicar alguma coisa. Só não consigo entender direito pois o barulho do ventilador não deixa, mas não posso desligá-lo: Meu café ainda está aqui na direita, muito quente.

Você pode achar graça em saber que o cara está tomando um café de frente pro ventilador. Esse é meu vício. Há quem diga que é por isso que eu prefiro o inverno. Mas não é por ai, no inverno vocês mulheres são muito mais lindas.

Óbvio que eu admiro uma mini-saia, pernas e umbigos de fora, cerveja, piscina e talicoisa. Mas se o verão fosse um prato não teria espaço nele para o mistério, assim como não há para um legume em tortas de bolacha. E a curiosidade é que nos move.

É simples notar esse comportamento. Veja como a loja que está com jornais na vitrina chama mais a atenção; como a pessoa que você não conhece é tão mais interessante; como os caras novos na cidade são sempre os mais bonitos. Depois eles perdem o mistério, mas ai o estrago já está feito.

É tão mais legal tomar um vinho com os amigos envolto a uma lareira, e saber que todos olham para o fogo com uma avidez impar assim como os apaixonados olham para a lua e sentem que seu par, onde quer que esteja também o faz.
Talvez nem seja preciso dizer nada. Apenas olhar até o vinho secar ou o fogo apagar.

Enfim, se eu pudesse definir o inverno diria que ele é o forasteiro da cidade - o único desses que eu não odeio- que aparece todo o ano para relembrar que com imaginação até aquela voz lá na sala ganha graça.


Ah, o cachecol. Ah, as bochechas rosadas. Ah, o café.
Ah, o café!






O que sucede o azul claro e precede o preto noite.

sábado, 12 de março de 2011
Sabe o que é estranho? Essa minha contrariedade.
Explico.

A primeira vez que a vi foi em um dia nublado de verão onde as pessoas corriam pois tinham a certeza que dali viria um temporal. E realmente veio. Só que não foi do céu, foi do único azul que ousou lembrar às nuvens que aquele espaço já tinha dono.

Foi daqueles olhos.
Antes que imagine, o azul não era celeste. Sabe aquele curto espaço de céu que sucede o azul claro e precede o preto noite em fins de tarde? Era desse ai.

Tento puxar da memória a primeira coisa concreta que consegui pensar no momento pós-exposição - mas não encontro qual foi a primeira gota de pensamento que despejou, dentre tantas.


Ela vinha na mão inglesa, cheia de si que quem mudaria de lado na calçada seria eu. Mero engano. Aquele acidente era desejável. O momento era tão tenso que nem os trovões me distraiam, na verdade eu já nem sabia se eles vinham da tempestade cinza ou azul.
- Você não olha por onde anda?
  
Quis responder que nunca havia olhado tanto na vida mas pestanejei:
- Desculpe-me, estava distraído. Preciso correr em casa, o varal está cheio de roupas.
Mentira, eu nem sei lavá-las. Dizia que morava sozinho.

A contrariedade: - Aqueles olhos eram os mais lindos e inspiradores que já havia visto. Só que surgiu de repente uma vontade incontrolável de conseguir fechá-los.
Mas quem acreditaria em beijos capazes de dissipar tempestades?

Mas nem adianta mais falar nisso, ela logo deu de ombros e saiu.
Acho que ela tinha roupas no varal também.

A meia volta

terça-feira, 1 de março de 2011
Hoje, quando entrei no supermercado eu a vi de passada no caixa.
Não era daquelas moças voluptuosas capazes de atrair a atenção de todas as mulheres do local.

Dos homens, talvez.

Lindos olhos verdes arranjados em seu rosto como aquele tempero secreto que a sua avó adiciona ao feijão e que sempre te deixa na duvida se o prato seria tão gostoso sem ele, mesmo não sabendo o que é.

Altura ideal, pernas longas e lindas até onde seu short permitia ver. Blusa branca da qual nem imagino o nome, mas digo que é daquelas que se usa justa e presa sob o short, permitindo a exibição de sua geografia - mal sabem elas como ficam lindas assim, com expressão de concentrada e incomodada, sabendo que está sendo observada ao mesmo tempo em que procura moedas dentro de sua carteira.

Pagou. Partiu.


Para mim, além do seu olhar curioso ficou também uma moeda que a pertenceu. Vinte e cinco centavos levemente opacos que datavam 1994. Eu sei que a moeda foi dela, eu vi.
Não é louco?
Por quantas mãos deverá ter passado essa moeda de 17 anos?!

Quantos jantares pagou, do restaurante mais caro ao boteco do português.
Tantas pipocas estourou, desde o mercado que estou até o cinema lá da praça.

Com certeza poderia me contar boas historias, como a vez que fez um garoto apaixonado ganhar um beijo em uma brincadeira maluca de lhe jogarem rodando à cima. Nem viu quem era, estava tonta, mas soube o que fez e sorriu por isso.
Foi trocada por uma maçã do amor junto com outras companheiras em um circo, pôde ver o casal que formou se afastar até cair no bolso daquele cara.

Riscos de caneta dentro. Arrependeu-se por não ter dado mais meia volta quando pôde.

Nota onde uma simples meia volta pode levar? Ela não teria parado dentro de um porquinho de cerâmica por alguns anos se tivesse se esforçado um pouco mais.


- Moça, quer saber? Vou pagar no cartão. Não suporto ouvir uma moeda me dizendo o que eu deveria ter feito.





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