Ele calçou os óculos na expectativa de que o resultado fosse nada diferente do que o médico falou:
- Você verá o mundo melhor. E deu um sorriso canalha, tipo como o dos atores quando dizem um clichê.
Saiu do consultório estremecido. Ou o médico estava certo, ou o mundo mudou por si só naqueles 5 minutos.
Notou que a secretária já não era tão bonita, e o sorriso ao dizer oi também não era do mesmo branco.
Mas o estranho não foi isso.
Um segundo observador que estava posto do outro lado da rua, sentado no muro do Hospital viu o Nery descendo as escadas do Centro Clínico e riu.
Até ouvi o que disse para um outro: - Olha lá, ele tá andando estranho, parecem passos de elefante.
Nery tinha perdido a noção do espaço. Seu cérebro não havia se acostumado com aquelas lentes.
E eu vi na cara dele o mesmo desgosto que os outros que saem de lá também sentem enquanto dão passos altos, parecendo mesmo um elefante.
O mundo era mais legal antes. Havia algo de poético em não ver com perfeição: Ele poderia completar por si só os espaços deixados por aqueles 7 graus de miopia.
Nery vivia em uma espécie de mundo paralelo, no qual havia um pouco de si em tudo.
E talvez o médico tenha mesmo se enganado, o mundo, de maneira nenhuma estava melhor assim, essa já nem era a cidade na qual nascera.
Enquanto ele subia a rua, dava-se conta que aquela era a primeira vez em que via a escola que estudou. Pensou se as garotas que ele considerava as mais belas da escola eram realmente belas. E se as feias eram fugazmente feias.
E assim foi passando os dias. A cada descoberta, uma pesagem. Ele deveria por de um lado a imagem que ele tinha armazenado com seus sete graus de contribuição e do outro a que realmente existia.
Era uma tarefa árdua, mas estava se adaptando bem, até que chegou o dia D.
Nery encontrou na rua a garota que sempre lhe povoou os sonhos. Loira de cabelos cacheados, 1,70 m de pele branca e pura volúpia. E ela era incrivelmente linda, quase como sempre a imaginou, a não ser por um detalhe. Os olhos.
As lentes, sustentadas por hastes de metal presas atrás de suas orelhas apresentavam-lhe um verde esmeralda belo, mas normal, quando comparado ao de suas lembranças. Isso não tirava a beleza de Maria, de forma alguma. Mas ele era encantado por outro verde.
Por aquele verde que não existia.
Por aquele verde que só Nery viu.
Aquele verde que só Nery viu.
Postado por
Günther Sott
às
16:58
segunda-feira, 18 de abril de 2011
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