De cotovelos escorados por sobre o parapeito da ponte, Vinicius entende coisas da vida.
Segurando a cabeça, e transferindo o peso do seu corpo para aqueles pilares acostumado a suportar carros e caminhões, ele ri.
Quanto mais a água passa, mais ele ri.
Por um breve momento ele pôde perceber que as coisas não são tão independentes quanto parecem.
Vendo aquelas águas barrentas correrem rio abaixo ele instintivamente pensa em Maria.
Ah, a gravidade. Tanta coisa se resume a ela.
Lembra das folhas que eles viram caindo, naquele outono em Porto Alegre.
Sente o gosto da primeira vez que as pálpebras finalmente tombaram, e enxerga as ondas que batiam nela e faziam ele rir enquanto corria atrás, tentando segurá-la o mais forte possível. E nem era pelo repuxo, era por amor mesmo.
Aquele desejo de colar no corpo dela, fechando-lhe as mãos em um abraço eternizado pelo tempo.
Pois o tempo era aquele. Que tão bom foi, mas ficou.
A gravidade também estava presente nos fins de ano. Olhando para o céu e vendo pipocar as luzes cadentes dos fogos de artifício, brindavam, sem nem lembrar que a terra estava no mesmo ponto do espaço que esteve quando eles se conheceram.
E a força que fez as lágrimas tombarem dos olhos de Maria no primeiro Natal juntos, é a mesma que fez elas cairem dos olhos de Vinícius, e se juntarem ao rio.
Ele respira, e sai.
A gravidade que empurra aquele mundo d'água geografia abaixo só precisa fazer o seu trabalho.
E quando a água evaporar, Vinicius torce para que a chuva molhe Maria, no fim da tarde de Capão.
Estarão juntos novamente. Por um breve período de tempo, relativo para os dois.
Insignificante para Maria.
Eterno para Vinícius.
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