O que é inato nas mulheres.

quarta-feira, 15 de junho de 2011
Inadmissível. Injusto. Revoltante.

Marcelo pensou tantos adjetivos naquela noite que, nem que eu tente, conseguiria transcrever aqui.
Em pleno 12 de Junho, ele jantava em casa um carreteiro requentado. COM SUA MÃE!

A raiva era tanta que ele estraçalhava uma folha de alface com um prevalecimento absurdo. Nem a costela da vaca mais velha que ainda pasta nesse mundo merecia tamanha violência.

E olha que isso tudo foi antes de a sua mãe errar: - Filho, cadê a Amanda? Não me diga que brigaram em pleno dia dos Namorados!

Ele parou.
Ergueu a cabeça e mostrou-a seus olhos flamejantes. Terminou de deglutir o talo do alface, respirou fundo e disse: - Não mãe. Ela está em casa, se arrumando.
A mãe persiste no erro: - Arrumando pra quê? Eu acho que nem deve haver mais vagas nos restaurantes a essa hora da noite.

Marcelo apoia ambos os cotovelos na mesa, passa os dedões por sobre as têmporas e entrelaça os outros 8.
Olhando  para o encaixe que os dedos formavam, ele parece se esconder de sua progenitora.
É difícil pra ele, pode acreditar.

Como dizer pra sua mãe, que além de tudo é uma mulher também, que Amanda está trocando-o por impulsos inerentes de uma mulher?
De que maneira admitir que ela está ficando mais bonita, em pleno dia dos namorados, para outra pessoa, que não ele?

A gente sabe o que dizem sobre as mulheres. De como elas são competitivas, ciumentas, vingativas, possessivas, egoístas e tudo mais, mas Marcelo nunca tinha evidenciado esse comportamento em Amanda.
Não desde aqueles comentários atentosos proferidos por aquele cara.
E ele nunca imaginou o poder que esse impulso inato exercia sobre ela.

Deus, depois daquilo tudo mudou.

Ela nem toma chimarrão com ele nos fins de tarde, porque essa era a única hora que ela tinha para ir no salão de beleza.
Ela começou a pensar só em si mesma. De como tinha de se comportar, do que comer, ou usar.

De que cremes comprar, perfume exalar e banhos de ervas tomar.
Era tanta coisa que ela até esqueceu de comprar um presente de dia dos namorados para o Marcelo.
Mas essa, nem de perto, era a maior preocupação dele.


Como contar isso? Me diga
Como dizer para a sua mãe que Amanda traía a cumplicidade construída em 3 anos com pensamentos em outros.
Pior, gente.  Muito pior: Pensamento em Mulheres.

Morenas, loiras, ruivas. Altas, média, baixas.
Onde antes haviam sonhos, recordações e afeto, agora estava tomado por convicções de como todas essas outras são lindas, e ao mesmo tempo, tão ridículas.

Céus, Marcelo não tinha coragem de contar isso, nunca. Nunca.

Ele não disse mais nada na mesa, levantou e foi tomar seu banho, desejando que, nessa noite, tudo volte ao normal:
- Miss São Luiz. Que ao menos seja Amanda a nova Miss São Luiz.

As Rodas

terça-feira, 14 de junho de 2011
Ramiro está a milhão.
Na cabeça muitas idéias, percepções, imagens e sons.
No velocímetro: 140 Km/h.
Lá fora: chuva.

Agora ele pensa como o destino é safado: quando saiu de casa, no impulso, esqueceu todos os Cds.
Vinha lutando com as subidas e descidas daquele vale para conseguir sintonizar a FM.
E aquela montanha-russa de asfalto  pregou-lhe um desafio: A música.

Ele vinha tranquilo, pensando na Pâmela, aquela loira linda que habitou seu pensamento durante toda a semana, quando, como que uma mensagem do além, em meio aquele chiado de estática surge uma voz e um violão.
E digo, não há no mundo dupla melhor que voz e violão.

Nem Queijo-Goiabada; Pelé-Tostão; Romário-Bebeto; Vinho-Lareira. Nada.


Começam os dedilhos de um acorde:
- "As pessoas têm o direito de voar, e voarão quando se comprometerem. Seus corações dizem: Siga em frente! Suas mentes dizem: Te entendi, coração. Vamos seguir em frente..."

 Shhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!

Ele pisa fundo, precisa escutar o resto.
O velocímetro e o carro sobrem a estrada:
- "Porque alguém está voltando pra casa, com uma única rosa na mão.." Shhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
"É esse o caminho que essa roda continua fazendo agora. É esse o caminho que essa roda continua fazendo agora.." Shhhhhh!

Ele vai, mais e mais. Mas a música não volta. E talvez nem fosse mais preciso.
Ele entendeu a mensagem do destino: Sempre há uma perspectiva.

Notou, que, mesmo no desatino do seu impulso, as coisas começaram a trabalhar para que Pâmela ficasse mais próxima.


E cantarolando ele foi.

Suas rodas giravam e empurravam a distância para trás.
A chuva que subia o pára-brisa parecia tentar agarrá-lo.

Mas ele foi.
Cantarolando, Ramiro foi.



_____

A Música em questão é Wheel. Do John Mayer.





Quem é o egoísta?

Havia um pai e dois filhos.

Sobrevivente de um Brasil difícil, o pai sempre se preocupou com a honra e sustento da família. Se tornou um escravo do capitalismo.
E isso não é expressão, era fato: Só queria dinheiro, dinheiro, dinheiro. O importante é ganhar, ser feliz a gente deixa pra depois. Demora muito ser feliz, precisa-se planejar. E quem planeja precisa de tempo. E tempo é dinheiro. Dinheiro, dinheiro dinheiro.

O filho mais velho, sempre incomodado por ter perdido a mãe cedo, e de certa forma, carente de exemplos, seguiu pelo mesmo lado.
O mais novo não.
O mais novo não se importava com dinheiro. Ele queria poder sorrir enquanto trabalhava. Queria fazer o que gostava.

Hoje, o pai com 58 está jantando na casa do filho de 38, que está pagando a janta.
Em uma cadeira está o outro, com 27.
Só um sorri.
Ele é egoísta?

Será que é ele o egoísta?

Mais uma lição adolescente

segunda-feira, 6 de junho de 2011
Rafael lembrava com um sorriso no rosto o tempo de adolescência.
Fora quase tudo perfeito: Amigos, festas, descobertas, amores.
Mas, ainda hoje, há uma coisa que o incomoda.

Havia na cidade a garota mais linda, assim como em toda a cidade há.
Mais: Ela era amiga dele.

Ela sabia quais musicas ele tocava no teclado quatro oitavas que ganhara do seu tio; Ele sabia que ela só comia alface se fosse com sal.
Sabiam mais: Sabiam tudo sobre o outro.

Na verdade, achavam que sabiam, pois o mais importante foi esquecido: Eles se amavam em segredo.

Diversas vezes, ambos imaginaram como seria se eles se declarassem.
Cristina sabia que não poderia passar do limite: Ela tinha feito de tudo para demonstrar que se importava com ele. Mas poxa. Ela era a garota mais desejada da cidade e só ligava para dar boa noite à ele. Ninguém mais.
Como ele não juntava os pontos?

E Rafael desconfiava disso tudo, mas tinha medo.
Teve tanto medo de perdê-la, que no fim, perdeu.

O tempo de escola passou e eles tomaram o seu rumo.
Hoje, cinco anos depois do ocorrido, ele sabe que não há mais tempo.
E é irônico, porque o tempo que era a chave de tudo: Se ele tivesse segurado ela por 6 segundos a mais em seus braços no dia em que ela completou 17 anos, talvez ela sentisse.
Se ele tivesse dedicado 3 segundos a mais no dia que se dispôs a esquentar as mãos dela, talvez ela sentisse.
Mas não. Ele não fez. E ela nunca sentiu.

Essa não é uma história exclusiva de Rafael e Cristina. 
Essa é uma história que acontece com quase todo o adolescente.
Aconteceu comigo também.

As vezes me pergunto se isso não seria só mais uma lição que essa época da vida nos trás: O tempo passa rápido.
Ah, se passa. 






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