O Caderno

quarta-feira, 19 de outubro de 2011
Augusto nunca tinha sentido algo como aquilo.
Sentado no chão, no centro de uma grande peça que ele projetou para ser o quarto do casal, ele, com um caderno em mãos, não sabia o que fazer.

- Faz tempo. Disse Augusto, sem tirar os olhos daquele objeto retangular que caiu de dentro de uma das caixas de papelão que traziam as ultimas coisas que restavam na casa da mãe.

Segurando firmemente o caderno capa dura de 96 folhas ele pesava se valia a pena abri-lo ou não.
Sabia muito bem que caderno era aquele.


Quinze anos antes, Augusto o havia comprado  junto com outros materiais escolares. Lembra que não conseguia decidir entre duas capas, então acabou convencendo a sua mãe a levar os dois.
Mas ele sabia que apenas um deles iria consigo para a escola.
O outro permaneceria ali, em segredo.

E com o tempo o caderno secreto foi recebendo, de fato, segredos.
Ali estavam expressas coisas que ninguém jamais soube sobre aquele adolescente de 15 anos, como suas paixões platônicas; planos; ideais; sentimentos; opiniões; desejos e tudo mais que habitava as idéias de um adolescente com sede de vida.
Não era um diário. Augusto não contava a sua rotina. Aquilo era uma espécie de manual de como ele iria agir e ser quando o tempo viesse e levasse sua vida a diante.
Era o fluxograma para a sua felicidade futura.
Era sua bíblia.
Era o seu plano.

Os anos passaram e as folhas do caderno foram acabando, assim como o interesse de Augusto por aquilo.
Ele já não via mais graça em planejar. Agora ele queria por tudo em prática. E assim, o fez.

Cresceu; estudou; passou; bebeu; fumou; festejou; se apaixonou; noivou; se formou; casou.

E agora, sentado no chão, Augusto tem medo.
Com 30 anos, uma esposa, e um filho, ele treme diante de um caderno.

Ele recordava dos dias em que escrevera ali, as vezes até lembrava  o porque de ter recorrido ao caderno. Mas ele não lembrava do que havia escrito.

E mais: ele não sabia se queria lembrar.
A duvida que arrebatou Augusto era justamente essa: Saber ou não se o que ele é hoje orgulharia quem ele foi, 15 anos atrás. Saber ou não se o seu plano deu certo.

Tudo bem. Ele é feliz agora. Mas será que suas ambições não eram maiores e seus sonhos gigantescos, a ponto de transformar a sua atual realidade em uma mera vidinha de adulto?


Augusto não abriu o caderno.
Preferiu não saber se desapontou a si mesmo.

Sábia decisão.
Com certeza, seria um grande golpe.






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