Trabalhou em dois turnos nos últimos 5 dias e acabou esquecendo do pedido da amada:
- Xuxu, não precisa gastar nada comigo na páscoa, tá? Eu só quero uma caixa de bis branco. Branco, viu Gérson? Eu sou uma mulher diferente da maioria, nem gosto tanto assim de chocolate.
Aquilo tinha acontecido no domingo passado, ele tinha a semana toda pra comprar, mas o idiota do Cícero tinha que chamar justo ele pro plantão. Porque não chamou o Alcídes que não tem família, e nem namorada? Foi o Cícero que o colocou nessa situação, maldito.
Nessas situações Gérson via como o mundo era injusto. Ele foi colega do Cícero na faculdade, e sempre foi melhor que ele. Nunca errou o nome de um osso nas aulas de Anatomia, nem o nó em uma aula de sutura. Sabia de cor a características de todas as células do sangue e até mesmo discordava dos diagnósticos que ele ouvia no seriado do Dr. House.
Ele exclamava na sala da enfermagem: - Como isso, House? Uma leucemia sem tu pedir um Hemograma? Tá errado isso, ta muito errado.
E depois de passado todos aqueles anos de dedicação e martírio, é chefiado por um cara que sabia muito menos que ele, e que só por birra o escalou em semana de páscoa.
Mas sábado ele conseguiu sair mais cedo e correu pro super mais próximo.
Chegou em estado de vigília total, as pupilas dilatadas e todos os sentidos em prontidão.
Ele sabia que quem estava no super a essa hora tinha esquecido de algo, e estavam todos algozes pois sabiam que os melhores chocolates já haviam terminado.
Passa como um raio pelo corredor de banho e pega a esquerda na encruzilhada.
Cruza com maioneses e massas em promoção, nem olha o preço da cerveja, e ruma ao norte.
A distância de dois guichês avista a padaria e se frustra. Já está chegando ao fim do mercado e nada ainda, ele não podia dar-se ao luxo de perder tempo sabendo que talvez houvesse poucas caixas de bis brancos a serem arrebatadas.
Ultrapassa os freezers vazios, que provavelmente conservavam os peixes de todos os almoços de ontem e, bingo, surge diante de si uma grade com ovos de chocolate pendurados.
Gérson corre até lá, e a 30 passos de distancia enxerga o seu alvo. A caixa de bis branco. Uma só, mas não importa, seria a sua.
Graças a deus, a salvação. Sorri satisfeito.
Mas não, droga. Uma mulher está indo em direção a ela, com a mesma avidez.
Ela enxerga Gérson e apura o passo. Uma olhada para a caixa, uma para o enfermeiro. Uma para a caixa, uma para o enfermeiro.
Ele faz a mesma coisa. Chegam juntos:
- É minha. Diz a linda mulher enquanto entrelaça os longos dedos na caixa retangular
- Moça, por favor. Minha namorada pediu apenas uma caixa de bis brancos na páscoa, eu trabalhei a semana toda e a única chance que eu tive para comprar o presente foi agora. Seja altruísta, por favor!
- Pois então trate de ir pensando numa boa desculpa para dar a ela. E dá de ombros.
Que mulher abdicaria de seu desejo chocólatra apenas para fazer o bem ao outro?
Não existe ética feminina quando o assunto é chocolate.
Ele suspira, transparecendo o medo de ir para casa.
- Tomara que ela seja mesmo diferente.
Teus textos tem um erros gritantes de português, Biz por exemplo, inaceitável.