A comédia romântica

terça-feira, 10 de maio de 2011
Atônito, triste, iludido. Assim estava Eraldo, cinco minutos após o termino da primeira comédia romântica que viu em sua vida.

Enquanto todos já esvaziavam a sala confortável do Cine Lux, ele permanecia ali, acomodado na poltrona 41, tão menor do que quando sentou. Olhava para a tela com os ombros encolhidos e via muitas coisas, menos os créditos que subiam.
Ao seu lado, um saco vazio de pipocas, duas latas de refrigerante e 4 canudinhos mordidos.
Nenhuma mulher. Nenhum sorriso. E em 27 anos, nenhum final feliz.

Ele trabalhava demais, pouco se dava ao luxo de ir ao cinema, quanto mais comprar um aparelho de DVD.
Aproveitava as noites de filme na TV para dormir cedo, chegar ao serviço no raiar do dia e trabalhar mais.
Dizia que só o trabalho poderia curar tudo e manter a mente ocupada a ponto de não pensar no que é preciso esquecer. Mas todos comentavam que Eraldo nunca teve alguém para amar, e assim, ter de lutar para esquecer.

Porque no fundo é isso que todos nós fazemos: Lutamos, vencemos e esquecemos. Simples no final. No final.


Mas na quinta-feira ele ouviu o comentário de um colega enquanto passava para buscar umas folhas na impressora:
- Ontem levei a Natália no cinema. Vimos uma comédia romântica muito boa. A noite depois daquilo foi uma loucura.
Ele pegou os papéis e voltou para a sua mesa se perguntando como poderia uma mistura de romance com comédia ser legal. Puxou o jornal A Notícia de quarta e procurou os horários de exibição no cinema. Decidiu que precisava ver aquilo. Adorava comédia. Julgou que era necessário rir um pouco, além do que, sexta era a sua folga. Anotou na sua agenda: Cine Lux, última exibição às 21h. E conforme o planejado, lá foi.

Agora, às 22h53min ele nota que errou.

Olhando para a tela ele se pergunta por que diabos ele esteve à beira de chorar vendo um filme intitulado comédia. E não choraria pela história do filme, ou pela atuação impecável de uma atriz. Mas sim porque percebeu naquelas quase duas horas que nada do que foi exibido parecia ao seu alcance.
Se aquilo era a receita para a felicidade, ele não possuía nenhum ingrediente, e nem sabia onde arranjar.
Ele demorou, mas levantou-se e foi embora. No outro dia, ignorou sua folga e chegou ainda madrugada na empresa.

Desde então esse virou o seu vício. Toda quarta ele folheia o A Notícia em busca de uma comédia romântica em exibição no Cine Lux.

Ao menos assim ele tem algo para esquecer enquanto trabalha: O final feliz.
O maldito final feliz.

1 comentários:

  1. pedagogia disse...:

    Ehehehe....como diria nosso Imortal Poeta Telmo Torres...Seria Belo se não fosse trágico....

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