A meia volta

terça-feira, 1 de março de 2011
Hoje, quando entrei no supermercado eu a vi de passada no caixa.
Não era daquelas moças voluptuosas capazes de atrair a atenção de todas as mulheres do local.

Dos homens, talvez.

Lindos olhos verdes arranjados em seu rosto como aquele tempero secreto que a sua avó adiciona ao feijão e que sempre te deixa na duvida se o prato seria tão gostoso sem ele, mesmo não sabendo o que é.

Altura ideal, pernas longas e lindas até onde seu short permitia ver. Blusa branca da qual nem imagino o nome, mas digo que é daquelas que se usa justa e presa sob o short, permitindo a exibição de sua geografia - mal sabem elas como ficam lindas assim, com expressão de concentrada e incomodada, sabendo que está sendo observada ao mesmo tempo em que procura moedas dentro de sua carteira.

Pagou. Partiu.


Para mim, além do seu olhar curioso ficou também uma moeda que a pertenceu. Vinte e cinco centavos levemente opacos que datavam 1994. Eu sei que a moeda foi dela, eu vi.
Não é louco?
Por quantas mãos deverá ter passado essa moeda de 17 anos?!

Quantos jantares pagou, do restaurante mais caro ao boteco do português.
Tantas pipocas estourou, desde o mercado que estou até o cinema lá da praça.

Com certeza poderia me contar boas historias, como a vez que fez um garoto apaixonado ganhar um beijo em uma brincadeira maluca de lhe jogarem rodando à cima. Nem viu quem era, estava tonta, mas soube o que fez e sorriu por isso.
Foi trocada por uma maçã do amor junto com outras companheiras em um circo, pôde ver o casal que formou se afastar até cair no bolso daquele cara.

Riscos de caneta dentro. Arrependeu-se por não ter dado mais meia volta quando pôde.

Nota onde uma simples meia volta pode levar? Ela não teria parado dentro de um porquinho de cerâmica por alguns anos se tivesse se esforçado um pouco mais.


- Moça, quer saber? Vou pagar no cartão. Não suporto ouvir uma moeda me dizendo o que eu deveria ter feito.





2 comentários:

  1. lhsantis disse...:

    PÔ... história assim fazem lembrar do Mestre Moacyr Scliar....continue... como ele diria...não é por falta de treino q não aprendi a escrever...

  1. juliana sott disse...:

    Tu tá ficando fera. Continue escrevendo

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