A musica que eu já devia ter feito

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
Não houve adeus.
Nenhum dos dois virou para trás esperando um resgate vindo de um olhar.

Foi apenas: 

- É isso mesmo? Então tu já sabes o que vai acontecer.

E esse foi um erro gigantesco, pois era claro que ninguém tinha ideia do que aconteceria. Ela não dormia, sempre topava com alguma foto, algum urso de pelúcia ou qualquer coisa que lhe arrefecia a lembrança e extinguia o sono. Olhava o celular. Nenhuma mensagem. Digitava. Apagava. Digitava.
Excluiu o número da agenda na esperança de que o tempo também o apagasse da memória.

E eu... não sei bem. 

Tento lembrar de como eu passava os dias naquele inverno de 2005, mas nada digno de nota me aparece.
Falando em nota, sei que não podia ouvir o ressoar de um Mi maior. Não importava se era no rádio, no violão de um amigo, ou na noite. Logo me batia uma tristeza, como se o acorde trouxesse à tona tudo que eu tentava deixar pra lá.

Não é fácil explicar, mas até hoje sinto isso. Como se houvesse ali a musica derradeira. Um ou dois versos me desculpando por ter sido tão egoísta a ponto de não perdoar; mais um sobre o orgulho que me impediu de repensar; e um refrão longo sobre ser tão infantil a ponto de nunca mais te ligar e fugir dos nossos problemas por alguns pares de anos.

E seguiria, com uma guitarra ao fundo, chorando por mim.

E eu tento, juro. Pego caneta e papel, mas não sai. Como se a história tivesse adquirido próprios instintos durante o longo período de stand-by no qual foi deixada.

Pois ela sabe que sobreviveu ao bater da porta, mas sente que não conseguiria vencer o ressoar da ultima nota.

Mas é preciso tirar esse mi de mim.
Tipo em um vídeo-clip, assim: 

O bater da porta.

O ressoar da nota.

FIM



Eu era muito alto

quarta-feira, 30 de outubro de 2013
Eu sonhei com ela: a garota que nunca disse que me odiava ou que me amava.
Ela só disse: - Não. Tu é muito alto.

Eu sei que esse foi o toco mais ridículo que se pode levar, entretanto entendi que ela deveria ter seus motivos, e pensei que seria até uma forma educada de dizer " deixa isso pra lá, não quero dizer o que penso de ti ".

As mulheres sempre fazem isso. Mas é só naquela noite, e acabou.
Elas te cumprimentam na rua, nas festas, interagem na internet, e deixam bem claro que aquilo ficou para trás.

Mas a baixinha não. A baixinha me odeia.
Ela vira o rosto, e não cumprimenta nossos amigos em comum quando estes estão comigo.
Ela faz cara feia quando a gente se topa, e logo vira pra uma amiga para reclamar alguma coisa.

MAS QUE CULPA EU TENHO?

Será que eu devo aos meus genes tamanha repulsa? Se algum alelo tivesse sido trocado no meu overprinting ela me aceitaria?

As vezes eu penso que ela me considera como um marco. Tipo: comecei a ter que mentir na adolescência por causa daquele cara. Talvez ela até tenha vergonha por ter mentido tão mal, mas ninguém manda bem na primeira vez.

Só que tem vezes que me acomete um lapso altruísta e eu paro de jogar nela toda a culpa.

Eu posso não ter entendido seu momento. Ou talvez ela fosse inexperiente e tenha dito um não por pura timidez. E eu fiz o que ninguém deve fazer: desisti na primeira porta fechada.

Ela pode ter se sentido renegada,  e ainda culpar-se por ter feito o que fez.

Lindo. Isso explicaria tudo!

Poderia  apenas virar pra amiga pra falar: ah, lá vem aquele carinha, vou falar qualquer coisa pra você para mostrar que não me importo. Por que na verdade eu não me importo mesmo.

Mas a gente sabe que ela se importa.

Ou não.
Sei lá.

Acho que passarei  minha vida toda com essa dúvida.

Incerto de que era amor.
Incerto de que era ódio.

Mas certo de que eu era alto. Muito alto.








O segredo sobre a Apollo 11

terça-feira, 2 de julho de 2013
Sempre achei que Buzz Aldrin tinha alguma missão secreta na Lua. Não sei.
Acho que ele colocou um espelho lá.
Faria total sentido.

A NASA não perderia uma oportunidade dessas.
Não se vai à Lua apenas para coletar rochas, deixar algumas pegadas, e ligar para o Presidente. Se vai para implantar um espelho.

Um espelho que refletisse a Terra, e que pudesse ser visto de qualquer lugar, com a ajuda de um bom telescópio.
Um espelho que oportunizaria, à quem soubesse de sua existência, observar os lugares que quisesse no momento em que quisesse.

Que fizesse poder monitorar as tropas inimigas. Saber do desatraque de porta-aviões russos, dos planos dos cosmonautas, ou em que lugar da ilha jantava Fidel.

Tipo um satélite de espionagem.
Aliás, o melhor deles, pois sempre tem uma janela aberta pra deixar a lua entrar.

Seria genial.
O cinema mostra que todas as pessoas que tem algo em mente normalmente fumam seu charuto escorados em uma janela escancarada, lançando a fumaça e os olhares introspectivos para fora.
Que todas as grandes conspirações são planejadas durante a noite.
E também que todas elas começam a se desenrolar antes de um amanhecer.

Sei lá.

Pensar assim me faz sentir melhor.
Me faz sentir mais racional ao olhar para a lua pensando em alguém.
Não me sinto um bobo, lançando olhares e suspiros para um satélite natural que só reflete a luz do sol.
Não. Eu sei. Buzz tinha uma missão secreta quando foi à Lua.

Ele tinha que ter.




O que é o altruísmo, afinal?

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
O altruísmo pode ser considerado um sentimento?

A primeira vista, alguns me respondem que sim. Mas há como incluí-lo no mesmo saco do amor; ódio; medo e outros tantos produtos do sistema límbico?

Venho pensando sobre isso há um certo tempo, e já começo a achar que o altruísmo está mais relacionado com forças éticas e comportamentais, do que com produtos meramente inatos. Pois:

Conseguir colocar-se a margem do foco de qualquer que seja a situação, privilegiando alguém ou alguns, soa meio conflitante com o objetivo de auto-proteção e promoção do ser-humano.

Ser altruísta é conseguir, por vezes, se livrar dos sentimentos que tentam influenciar a sua decisão, optando por fazer o que é correto ao momento, muitas vezes obrigando-nos a abrir mão de algumas coisas que poderiam nos trazer n benefícios.

Mais: fazer coisas que privilegiam os outros em detrimento a você, pois assim você julga correto.

E em determinadas situações, você se coloca em conflito consigo mesmo, pois não consegue entender o por quê de ter feito aquilo. Chega a conclusão de que pode ter sido medo, ou até mesmo falta de atitude.

E então você não se entende mais, e se pergunta: isso pode ser um sentimento superior, mesmo agindo de forma totalmente diferente dos outros sentimentos?
Pois os dessa classe nos cegam e deixam-nos 100% decididos sobre qual o próximo passo, sem brecha para repensar.

Já, agir de forma altruísta também nos apresenta a certeza, quando do momento a ser "utilizado". Mas depois, você não sabe o que o levou a agir dessa forma, que todos acham admirável, mas poucos repetem.


Por que ser uma pessoa que privilegia os outros é realmente admirado pelos demais.
Mas às vezes não consegue nem ser admirado por você mesmo.



FALA AÍ: O Capão do Troço

sábado, 10 de novembro de 2012

Ali, onde hoje é a Praça Cícero, havia um lago, os são-luizenses mais velhos hão de se lembrar.
Esse lago desapareceu numa noite de inverno, anoiteceu e não amanheceu, literalmente.
Após muita investigação, por parte das autoridades públicas da época, descobriu-se a causa do sumiço repentino.

À tardinha, havia pousado sobre o lago um bando de marreco, para passar a noite, antes de prosseguir em sua rota migratória, e aconteceu que, de madrugada, o lago congelou.
Quando os primeiros raios de sol começaram a despontar no horizonte, os marrecos começaram a bater as asas, no intuito de prosseguirem a viagem, e como suas patinhas estavam presas no gelo, acabaram, ao decolarem, levando junto o lago, que havia se transformado num cubo de gelo gigante e agora sobrevoava o pampa gaúcho.

No lugar do lago ficou somente uma cratera, onde começaram a crescer algumas plantas e logo se formou um matinho. Então, as pessoas que iam passear no centro da cidade, sentindo-se agoniadas, com necessidade de se aliviar, passaram a usá-lo como banheiro. Por isso o lugar ficou conhecido como Capão do Troço.

Nessa época, a rádio Farroupilha, de Porto Alegre, tinha a seguinte promoção: um radialista batia na porta de uma casa e se o morador, antes de abri-la, gritasse o nome da rádio, ganhava um determinado prêmio.
Um são-luizense, embriagado, numa madrugada de inverno, saiu do Bar do Mário e, transitando pela Senador Pinheiro, capotou o seu fusca, que ficou de rodas para cima no meio do Capão do Troço. O motorista dormiu ali mesmo e, logo que amanheceu, um passante deu umas batidinhas no vidro embaçado do veículo e o acidentado não teve dúvidas, gritou a plenos pulmões: FARROUPILHA!
Esse matinho prestou-se, também, para encrontos sexuais furtivos, principalmente para um rapaz alegre e solícito, muito dado, que, com os seus préstimos, providenciava a introdução da rapaziada ao mundo dos prazeres carnais. Muitos são-luizenses tiveram a sua iniciação sexual ali, no Capão do Troço.

Reza a lenda que dois sujeitos foram surpreendidos completamente pelados no Capão do Troço e, perguntados sobre o que estavam fazendo, respoderam:
- Estamos aqui, meio que cagando, meio que mijando...
Um casal chegou a construir uma casinha de madeira no Capão do Troço. O homem, que gostava de futebol, improvisou um arco de taquara e botava a mulher, de vestido mesmo, a atacar pênalti. Mas a esposa vivia reclamando que a moradia tinha muito rato e que o marido nada fazia para terminar com a praga. Numa noite de inverno, o homem chegou bêbado em casa e a mulher, indignada, começou a gritar que ele não servia nem para matar os ratos. O marido não aguentou, botou fogo na casa e corria em volta gritando:
- Se cagaram rataiada!

Nos escombros desse incêndio, aboletou-se, um dia, uma andarilha, uma mulher que ninguém sabia ao certo de onde vinha e nem para onde ia. Dúvidas também havia quanto à sua sanidade mental, o certo é que era ninfomaníaca. Um grupo de jovens resolveu adotá-la e cada integrante furtava, da própria casa, gêneros alimentícios para alimentá-la, latas de sardinha, pernas de salame, etc. Em troca, ela sustentava a lascívia da rapaziada, que ia se revezando na labuta, mas teve vezes em que a coisa foi grupal. Quando o inverno passou, já gordinha, ela partiu. Ninguém nunca mais teve notícias dela.
Diante desses fatos, o prefeito da época resolveu botar ordem na bagaça e transformar o local numa praça, a atual e simpática Praça Cícero Cavalheiro.

Há, ainda, relatos de que, quando os marrecos sobrevoavam Porto Alegre, visando chegar à Lagoa dos Patos, o lago começou a descongelar e os peixes foram caindo pelas ruas da capital.
Sobre essa chuva de peixes tem até um poema do Mário Quintana, que na ocasião foi atingido na cabeça por um pacu.
Amigos do poeta contam que ele não se fez de rogado e preparou o pacu assado, batizando o prato com o seguinte nome: Hipoglós.
Para finalizar essa estória, segue o poema em que o Mário Quintana faz referência ao dia em que foi atingido na cabeça por um pacu, durante uma chuva de peixes:

Canção de nuvem, vento e peixe – Mário Quintana

Medo da nuvem
Medo Medo
Medo da nuvem que vai crescendo
Que vai se abrindo
Que não se sabe
O que vai saindo
Será um peixe?
Medo da nuvem Nuvem Nuvem
Medo do vento
Medo Medo
Medo do vento que vai ventando
Que vai falando
Que não se sabe
O que vai dizendo
Cuidado com o peixe!
Medo do vento Vento Vento
Medo do gesto
Mudo
Medo da fala
Surda
Que vai movendo
Que vai dizendo
Que não se sabe…
Que bem se sabe
Que tudo é nuvem que tudo é vento
No meio um peixe
Nuvem e vento Vento Vento!
Peixe Peixe
Ai, minha cabeça!
_________

Texto de hoje vem da genialidade do Edson Luiz Vargas de Oliveira.


Mande o seu também: gunthersott@hotmail.com 

O que é isso, companheiro?

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Abrindo um novo capítulo no blog, o espaço FALA AÍ.

É destinado a amigos e leitores que queiram postar algum texto de sua alcunha mas não tem algum meio para isso.
Começamos com um do amigo Yuri Matos.
___________
Fico perplexo, quase atônito, com essas exasperadas intrigas entre Polícia Civil e Ministério Público. As instituições que deveriam trabalhar em conjunto protegendo os interesses da sociedade, ficam, ao invés disso, trocando farpas para mostrar quem está, ou não, com a razão.

Um dos vários episódios desses conflitos foi a propalada notícia da Delegada de Polícia que se recusou a lavrar flagrante porque questionava a participação da Brigada Militar na ação e, também, porque desconhecia maiores detalhes acerca da investigação conduzida pelo Ministério Público. Em decorrência disso, o Promotor de Justiça que conduzia a investigação - também agindo de modo um tanto inconveniente - determinou abertura de inquérito civil para apurar eventual prática de improbidade administrativa por parte referida delegada.

Pergunto-lhes: qual a grande ofensa em a Brigada Militar executar determinadas tarefas de polícia judiciária? Exceto o descontentamento da Polícia Civil, nenhum, a meu ver, se existir recursos e disponibilidade para isso. A frequente parceria entre Ministério Público e Brigada Militar decorre da necessidade de atuação mais prática e efetiva no combate a criminalidade, mediante pujantes ações de repressão, isso, no entanto, causa certo amargo à Polícia Civil, que não gosta de perder as “glórias”, ainda que demasiadamente singelas.

A Lei nº 9.099/95 autoriza a atuação da Brigada Militar nas infrações de menor potencial ofensivo, então, qual a grande ofensa jurídica em se dar efetividade à repressão criminal? Além disso, será mesmo que a simples participação da Brigada Militar em averiguações ou no cumprimento de mandados de busca e apreensão, em aleatórias e delimitadas oportunidades, prejudica consideravelmente a tarefa de policiamento ostensivo? Por outro lado, será que a colaboração da Brigada Militar não auxilia, inclusive, o trabalho da própria Polícia Civil, que evita deslocar agentes (muitas vezes afincados em outras tarefas) para o cumprimento de corriqueiras ordens judiciais? Se a grande problemática disso tudo está na ausência de previsão constitucional, a solução é simples e a devida reforma legislativa deveria ser efetivada, pois o escopo máximo é proteger e garantir os interesses da sociedade.

Além disso, aproveitando-se de toda a polêmica, a Polícia Civil voltou a criticar as ações de investigação do Ministério Público, dizendo que este não se interessa por acanhados delitos ou de pouca repercussão social. Na verdade, o MP-RS tem metas institucionais (GEMP 2022) que restringem e balizam as possibilidades de investigação interna, especialmente em razão de modestos recursos materiais e de pessoal. De qualquer forma, por mera coerência, o que surte mais efeito protetivo para a sociedade? Que o MP investigue e descubra o autor da subtração de um furto simples (praticado contra patrimônio privado de uma única pessoa) ou, então, que investigue e desmantele quadrilha organizada, que causava altíssimo prejuízo ao erário público ou que traficava em larga escala? Nem precisa resposta.

Para acirrar ainda mais a questão, no episódio da delegada, a Polícia Civil, alegando possível demasia na ação do “adversário” (pelo contexto fático é o que me parece), brada a necessidade de aprovação da PEC 37 - mais conhecida como PEC da impunidade -, dizendo que a sociedade – protegida por seus valorosos direitos fundamentais - não pode ficar submissa aos mandos e desmandos do intangível Ministério Público. Ora, isso um ultraje à própria ordem jurídica!
Imaginem todo o poder de investigação criminal pertencer exclusivamente às polícias judiciárias (civil e federal). Imaginaram? Para mim, é quase inimaginável. E a quem isso interessa? Aos “ladrões de galinha” (a quem o MP não costuma fiscalizar in locu) certamente que não! Por óbvio, o interesse em extirpar o poder investigatório do MP é puro e exclusivo daqueles a quem a Polícia Civil não tem força para reprimir e investigar, a quem, chamamos, ingenuamente, de Vossas Excelências (sei que não preciso nominar quem são, porque a maioria conhece – se bem que, se realmente conhecessem, agiriam de outra forma nas eleições), sobre os quais a Polícia Civil não tem a mínima força para reprimir ou investigar. Quer dizer, força até ela tem, mas, quando começa investigar, após rápida “mexida de pauzinhos” da cúpula corrompida, seus agentes são silenciados ou transferidos para o quinto dos infernos! E esse é o grande problema da submissão das polícias ao Executivo.

Aqui mesmo em São Luiz Gonzaga, quem leu as reportagens sobre a Operação Guarani, que desbaratou enorme esquema de corrupção no processo licitatório de concessão da água, sabe que a intervenção do Ministério Público - para investigação especializada (com apoio do núcleo de inteligência institucional) – iniciou mediante pedido de um Delegado de Polícia, que sabia, indubitavelmente, que a Polícia Civil local não tinha condições de investigar o esquema criminoso (que, supostamente, envolveria prejuízo milionário ao erário público), pela absoluta ausência de estrutura e recursos.

Caso seja aprovado esse execrado projeto de emenda constitucional, veremos, gradativamente, o avanço do caos. E quando falo em caos, não estou falando na reiterada atuação de assaltantes de ônibus (como está acontecendo em Rio Grande), nem da intensa onda de furtos praticados por drogaditos, mas sim da criminalidade dos “altos escalões”, aquela constituída pelos “excelentíssimos” senhores corruptos, que, então, por não mais temerem a atuação do Ministério Púbico, aproveitarão para montar novos e mais bem elaborados esquemas de corrupção, de desvio de dinheiro público, mensalões, mensalinhos, e tantos outros que a sociedade já conhece. Enquanto isso, promotores e procuradores estarão de braços cruzados em seus gabinetes, no ócio de sua autonomia funcional, esperando a chegada de possíveis inquéritos policiais elaborados pela vangloriada instituição que deterá exclusivamente o poder de investigar. Os agentes desta – os delegados (federais e estaduais)-, por sua vez, quando iniciarem investigações envolvendo integrantes desse “alto escalão”, ficarão entre cruzes e espadas, sob ameaça de remoção e outras punições discretas, que, certamente, resultarão em forçosa omissão.

Impossível olvidar ainda da corrupção dentro das próprias polícias. Não há, até onde se sabe, órgão ou instituição em que todos os seus integrantes sejam absolutamente corretos, idôneos, probos e cumpridores da lei (isso nos três poderes e no Ministério Público, infelizmente). No entanto, quando a corrupção está afincada dentro dos órgãos investigantes, como é o caso das policiais judiciárias, a questão toma conotação muito mais grave. Se o Ministério Público perder o poder de investigar, quem investigará as polícias judiciárias? Elas mesmas?
Será que é isso que a sociedade necessita? De um Ministério Público inerte e de uma Polícia oprimida e corrupta? Certamente que não. 
O atual cenário de persecução criminal está longe do ideal. Mas só de pensar na extirpação do poder de investigação da instituição titular da ação penal (a quem a investigação é dirigida), se antevê um retrocesso inimaginável e de efeitos catastróficos para a democracia.
Infelizmente, se a PEC 37 for aprovada, esqueçam, completamente, qualquer tipo de ideia para combate à corrupção, pois a ilegalidade, a imoralidade e a improbidade – mais do que nunca - tomarão conta do Brasil.

Utilizei o nome do livro de Fernando Gabeira como título para expressar tamanha perplexidade diante das reiteradas atuações dissonantes da Polícia Civil. Afinal de contas, para que serve a polícia judiciária se não para servir como braço direito do Ministério Público? Enquanto órgãos de persecução, Ministério Público e Polícia Civil devem trabalhar unidos para defender os interesses da sociedade por eles representada, deixando de lado qualquer disputa de escopo egoístico.

Por YURI MATOS. 
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Caso tenha interesse em participar, envie seu texto para gunthersott@hotmail.com.


Vamos tomar um mate, dia desses?

quarta-feira, 10 de outubro de 2012
Arthur não tinha Facebook.

Ele não era muito ligado em tecnologia, apesar de ser um jovem adulto de 34 anos.

Não até aquele dia.

Morava com seu filho em um pacato bairro de São Luiz. A ex-mulher havia ido embora depois da separação, e o menino de 12 anos resolveu ficar na cidade com o Pai, por causa dos amigos.


Quando guri, Arthur jogava taco na 13 de Maio e tocava as campainhas da cidade. Tomava banho de chuva e sempre pulava o muro do Rui Barbosa para jogar bola nos fins de semana.

Dizia isso todo o dia para Guilherme.

- Tu não sabe se divertir, filho. Não deveria ter te dado esse Notebook de Natal.

E ouvia:
- Ah, pai. Não viaja. O "Feice" é muito massa. E além do mais eu uso pra falar com a mãe, tu sabe.

O guri voltava da aula e entrava no tal de "Feice". Só saia dali pra tomar banho. Jantava na frente do computador e estudava pelo Google. Todo o dia. O dia todo.

Arthur se incomodava com aquilo mas não falava nada, pois sabia que era a forma mais fácil do filho se comunicar com a mãe.

Mas um dia Guilherme lhe chamou: 
- Pai, vem aqui.
- O que foi, filho?
- Tu conhece essa mulher? Perguntou Guilherme, entrando no perfil de uma morena.

Arthur reconheceu na hora. Era Fernanda. Sua paixão platônica de adolescência.

Ficou encabulado, mas disse: - Rrr. Sim, filho. Ela foi minha colega ali no Rui. Por quê?

- Por que ela me adicionou no Facebook perguntando se eu era teu filho.

Arthur coçou a cabeça e ouviu: - Senta aqui, vou fazer um perfil pra ti. Todas as pessoas da tua idade tem, só tu que é cabeça dura. Assim tu vai poder reencontrar os teus colegas e parar de me incomodar. Tu vai ver que é massa.
Muito massa.

Ele sentou, ainda desnorteado com a imagem de Fernanda. Ela estava ainda mais linda do que lembrava.
Seu filho foi lhe perguntando algumas coisas, e em menos de dois minutos ele já estava lá. No Facebook.

- É simples, pai. Deixei a senha salva, é só tu por o teu nome aqui e entrar.

O tempo foi passando e Guilherme foi lhe ensinando como fazer. Aos poucos ele começou a gostar daquilo, e sempre que o filho não estava em casa, Arthur passava horas conectado, conversando com os velhos amigos.

Até que um dia ele foi surpreendido por uma pergunta: - Pai, por que mulher menstruada não pode tomar mate?

- Hãm!? Como assim, filho? De onde tu tirou isso?

-É pai. É que as vezes eu entro no teu Feice pra dar uma olhada, e ontem eu li uma conversa tua com aquela Fernanda...

O pai corou.

 - E eu vi que ela disse que estava de férias em São Luiz. E daí tu convidou ela pra tomar uns mates, mas ela disse que não podia por que estava menstruada.

- Por que mulher menstruada não pode tomar mate, pai?

Arthur pensou, enviesou a sobrancelha, e então disse:

- Eu sei lá, filho. Mulher é estranha mesmo. Elas também não podem nem bater maionese...


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