Marcelo pensou tantos adjetivos naquela noite que, nem que eu tente, conseguiria transcrever aqui.
Em pleno 12 de Junho, ele jantava em casa um carreteiro requentado. COM SUA MÃE!
A raiva era tanta que ele estraçalhava uma folha de alface com um prevalecimento absurdo. Nem a costela da vaca mais velha que ainda pasta nesse mundo merecia tamanha violência.
E olha que isso tudo foi antes de a sua mãe errar: - Filho, cadê a Amanda? Não me diga que brigaram em pleno dia dos Namorados!
Ele parou.
Ergueu a cabeça e mostrou-a seus olhos flamejantes. Terminou de deglutir o talo do alface, respirou fundo e disse: - Não mãe. Ela está em casa, se arrumando.
A mãe persiste no erro: - Arrumando pra quê? Eu acho que nem deve haver mais vagas nos restaurantes a essa hora da noite.
Marcelo apoia ambos os cotovelos na mesa, passa os dedões por sobre as têmporas e entrelaça os outros 8.
Olhando para o encaixe que os dedos formavam, ele parece se esconder de sua progenitora.
É difícil pra ele, pode acreditar.
Como dizer pra sua mãe, que além de tudo é uma mulher também, que Amanda está trocando-o por impulsos inerentes de uma mulher?
De que maneira admitir que ela está ficando mais bonita, em pleno dia dos namorados, para outra pessoa, que não ele?
A gente sabe o que dizem sobre as mulheres. De como elas são competitivas, ciumentas, vingativas, possessivas, egoístas e tudo mais, mas Marcelo nunca tinha evidenciado esse comportamento em Amanda.
Não desde aqueles comentários atentosos proferidos por aquele cara.
E ele nunca imaginou o poder que esse impulso inato exercia sobre ela.
Deus, depois daquilo tudo mudou.
Ela nem toma chimarrão com ele nos fins de tarde, porque essa era a única hora que ela tinha para ir no salão de beleza.
Ela começou a pensar só em si mesma. De como tinha de se comportar, do que comer, ou usar.
De que cremes comprar, perfume exalar e banhos de ervas tomar.
Era tanta coisa que ela até esqueceu de comprar um presente de dia dos namorados para o Marcelo.
Mas essa, nem de perto, era a maior preocupação dele.
Como contar isso? Me diga
Como dizer para a sua mãe que Amanda traía a cumplicidade construída em 3 anos com pensamentos em outros.
Pior, gente. Muito pior: Pensamento em Mulheres.
Morenas, loiras, ruivas. Altas, média, baixas.
Onde antes haviam sonhos, recordações e afeto, agora estava tomado por convicções de como todas essas outras são lindas, e ao mesmo tempo, tão ridículas.
Céus, Marcelo não tinha coragem de contar isso, nunca. Nunca.
Ele não disse mais nada na mesa, levantou e foi tomar seu banho, desejando que, nessa noite, tudo volte ao normal:
- Miss São Luiz. Que ao menos seja Amanda a nova Miss São Luiz.