Ele estava a apenas dois passos dela. Mas não tinha coragem
de dá-los.
Podia sentir seu cheiro, analisar suas expressões e olhar em seus
olhos.
Por um segundo chegou a sentir a textura de sua pele, no breve
momento em que o sol foi encoberto e ele estendeu uma das mãos na direção
dela. Mas logo a nuvem, que seguia seu destino passageiro, passou.
O calor voltou. A pressão voltou.
Algo lhe tocava e fazia todos os seus nervos reportarem ao cérebro
o perigo de sair de um local protegido.
André estava sob uma grande copa de árvore que lhe abrigava do
sol. A não ser por raros raios que conseguiam encontrar brechas, ele entendia
que se não saísse dali, nunca seria exposto.
Disparava nela um olhar curioso.
Sabia que se tomasse coragem poderia esclarecer as coisas.
Nada era garantido, mas havia uma chance, afinal ela o esperou
ali, no sol, por tanto tempo.
Via as pessoas passarem do outro lado da rua: Sorriso no rosto;
planos na cabeça; mãos nas mãos.
Os dedos entrelaçados das pessoas o faziam enxergar imas de
geladeira.
Ele riu.
Escorado no tronco da árvore, com três metros de sombra ao seu
redor, André pôde perceber que as dicas estavam por todos os lados.
Ainda relutante, ele girou seus olhos pelo circulo que o
enclausurava.
Tentava encontrar vantagens, em vão.
Ele encarou.
Deu seu ultimo suspiro no pleno conforto e, depois de uma brisa
encorajadora, se expôs.
Há quem diga que o que lhe esperava era uma mulher.
Outros dizem que era a vida.
Os velhos da praça, quando contam essa historia, dizem que era a
felicidade.
Mas quem saberá, se a historia é igual para as três?