A sombra

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Ele estava a apenas dois passos dela. Mas não tinha coragem de dá-los.
Podia sentir seu cheiro, analisar suas expressões e olhar em seus olhos.

Por um segundo chegou a sentir a textura de sua pele, no breve momento em que o sol foi encoberto e ele estendeu uma das mãos na direção dela. Mas logo a nuvem, que seguia seu destino passageiro, passou.

O calor voltou. A pressão voltou.
Algo lhe tocava e fazia todos os seus nervos reportarem ao cérebro o perigo de sair de um local protegido.

André estava sob uma grande copa de árvore que lhe abrigava do sol. A não ser por raros raios que conseguiam encontrar brechas, ele entendia que se não saísse dali, nunca seria exposto.

Disparava nela um olhar curioso.
Sabia que se tomasse coragem poderia esclarecer as coisas.
Nada era garantido, mas havia uma chance, afinal ela o esperou ali, no sol, por tanto tempo.

Via as pessoas passarem do outro lado da rua: Sorriso no rosto; planos na cabeça;  mãos nas mãos.

Os dedos entrelaçados das pessoas o faziam enxergar imas de geladeira.
Ele riu. 

Escorado no tronco da árvore, com três metros de sombra ao seu redor, André pôde perceber que as dicas estavam por todos os lados.
Ainda relutante, ele girou seus olhos pelo circulo que o enclausurava.
Tentava encontrar vantagens, em vão.

Ele encarou.
Deu seu ultimo suspiro no pleno conforto e, depois de uma brisa encorajadora, se expôs.

Há quem diga que o que lhe esperava era uma mulher.
Outros dizem que era a vida.
Os velhos da praça, quando contam essa historia, dizem que era a felicidade.


Mas quem saberá, se a historia é igual para as três?





O corno radialista.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011
Dogão se achava o cara.

Sempre que ouvia alguma história sobre traição, sorria, enviesando o canto direito da boca, e olhava para o locutor com uma expressão de desdém: Coitado. Essa história não chega nem perto da minha.
Era sempre assim.

No trabalho, na faculdade, no bar. Em tudo.
Até quando passava por aqueles grupinhos do terceiro semestre de Literatura, que discutiam, em vão, sobre a possível traição de Capitu-Escobar, ele ria.

Ele se achava o homem mais esperto do planeta.
E isso tudo porque tinha um caso com uma mulher casada.

Encontrava ela todas as quartas e domingos.
Todas as semanas do ano.

A não ser durante a pré-temporada da dupla Gre-Nal.

Dogão, que é Douglas de batismo, tinha um caso com a mulher de um conhecido radialista esportivo gaúcho. 

E isso era genial.


Quando o tal radialista saia de casa, para fazer a jornada esportiva da rodada, Larissa, a esposa traidora e meticulosa, ligava pro Dogão: - Oh! Ele já foi pro estádio. O campo aqui é todinho teu, meu artilheiro.

E o Dogão ia, sintonizava o rádio na estação do corno, e ficava lá, marcando os gols que o marido dela nunca imaginou narrar.

Perto dos 40' do segundo tempo ele calçava as chuteiras e ia embora, cansado, mas de ego inflado.

O jogo acabava e o marido ainda ficava cerca de uma hora no estádio, envolvido em  pós-jornadas e entrevistas coletivas.
Nesse meio tempo a esposa ajeitava toda a casa, estendia a cama, recolhia a calcinha de cima do ventilador de teto, e preparava um café para esperar o corno.

- Ele nunca vai saber. Eu sempre sei onde ele está! Pensava ela, que se sentia mais excitada ainda, pois considerava aquilo quase que um Menáge à tróis. 

Ela estava feliz.
A pele tinha ficado mais bonita. O ânimo era outro.

O radialista até estranhou, mas como a mudança era pra melhor, nem ligou.


Até comentou com um amigo, nessa segunda.

 - Tchê. A Larissa anda muito alto astral. Ontem cheguei em casa, ela me serviu o café de sempre e perguntou quem tinha ganhado.
Respondi que tinha sido o Grêmio, com um golaço do Douglas, e ela saiu rindo, faceira.

- To desconfiado de que ela anda mentindo pra mim.


-  Ela tinha me dito que era colorada.
































linkwit

Related Posts with Thumbnails
 
Madruguei Desatinado © 2011 | Designed by Felipe Bizzi, com a colaboração de Call of Duty Modern Warfare 3, Jason Aldean Tour and Sister Act Tickets