O João Clichê - Um texto em homenagem ao jornal A Notícia.

sábado, 28 de julho de 2012

João era o cara clichê. Ganhou esse apelido na época da escola, por que sempre largava aquelas frasezinhas prontas nos momentos mais inoportunos. Tinham gurias que confundiam o apelido e chamavam-no de João Chiclé, em vez de João Clichê. O pessoal ria muito disso, pois o mal-entendido criou em cima dele um estigma de cara grudento, mala e paparicador. O João, coitado, nunca pegou nada por causa disso.

Pois as gurias, quando dizem que sentem falta de um aconchego, lembrancinhas, surpresas e vidinha de casal, mentem. Mentem descaradamente. Viciadas em adrenalina. Isso que são essas mulheres. Umas viciadas.

Enquanto deixamos nossas doses semanais ao encargo da Fórmula-1, luta livre e a peladinha do fim de semana, elas precisam de algo mais envolvente. Algo mais a ver com as mulheres. Mais carnal. Mais complexo: um relacionamento difícil. 

Para elas, um relacionamento complicado é mais excitante do que ver o Anderson Silva dar um chute frontal no rosto do Vitor Belfort.

Mas, mil vezes mais adrenalizante que ver o Rubinho Barrichello ultrapassar o Schumacher e quase bater no muro a 320 Km/h, é ligar para o namorado no meio da noite e ele não atender. “Meu Deus. Onde ele está? Só pode ter saido, esse cretino. Deve estar me traindo com aquela vizinha atirada do 203. Ah, bastardo. Vou te encher de SMS”. E começa a disparar aqueles verdadeiros torpedos.

Ela lá, acordada a madrugada toda só mirabolando, e ele em casa, dormindo. No outro dia, o cara acorda atônito e vê aquelas 23 mensagens no celular, que chegaram ao meio da madrugada trazendo a maior coletânea de xingamentos já reunida, e se assusta. Precisa ligar de volta e explicar que estava muito cansado, pois trabalhou demais, e por isso não atendeu.

Do outro lado da linha, uma mulher com olhos marejados de tanto choro, e olheiras dignas de um urso Panda, sorri, como sorriem os que ficam sem graça, e suspira: “Ai. Ele me ama.”

Esse mal-entendido marcou a adolescência do meu amigo João. Coitado.

Hoje, ninguém mais lembra dessa história, que me voltou depois do convite do jornal A NOTICIA para escrever uma crônica sobre seus 78 anos. A única coisa que eu pensava era: não seja igual ao João Clichê. Não seja igual ao João Clichê. Não seja igual ao João Clichê. Mas entendi que só o que me restava era estender os braços e parabenizar a direção, funcionários e assinantes de A NOTICIA por mais este aniversário. Afinal, quando se festeja o aniversário de alguém com quase oito décadas de vida, não se pode fugir muito do mais famoso clichê: Parabéns! E muitos e muitos anos de vida!

0 comentários:

Postar um comentário

linkwit

Related Posts with Thumbnails
 
Madruguei Desatinado © 2011 | Designed by Felipe Bizzi, com a colaboração de Call of Duty Modern Warfare 3, Jason Aldean Tour and Sister Act Tickets